A Câmara Municipal de Anápolis anunciou, na manhã de 19 de maio de 2025, a exoneração do jornalista Denilson da Silva Boaventura do cargo de diretor de Comunicação, após sua prisão na Operação Máscara Digital, deflagrada pela Polícia Civil de Goiás (PCGO) em 16 de maio. A operação desmantelou um esquema de ataques virtuais coordenados por meio de perfis anônimos no Instagram, que perseguiam e difamavam moradores de Anápolis. Além de Denilson, foram presos o secretário municipal de Comunicação, Luiz Gustavo Souza Rocha, e a ex-candidata a vereadora, Ellysama Aires Lopes Almeida. Apesar das detenções, o trio foi liberado horas depois pela Justiça, mas segue sob investigação. A Folhain detalha o caso, suas implicações e as reações da sociedade local.
O Que Foi a Operação Máscara Digital?
A Operação Máscara Digital, conduzida pela Delegacia Estadual de Repressão aos Crimes Cibernéticos (DERCC) da PCGO, teve como objetivo desarticular um grupo suspeito de usar três perfis no Instagram – com destaque para o “Anápolis na Roda” – para praticar crimes contra a honra, perseguição e uso de identidade falsa. Segundo o delegado Marcos Adorno, as contas formavam um “ecossistema de vítimas”, atingindo mais de 50 pessoas, incluindo a influenciadora Kelly Pires, o vereador Dominguinhos do Cedro (PDT), médicos, empresários, pastores e até pessoas jurídicas.
“As publicações eram desconexas e tinham o único propósito de atacar. Identificamos o grupo por meio de investigações minuciosas, que conectaram as contas aos investigados”, afirmou Adorno. As contas estavam logadas nos celulares dos suspeitos, apreendidos em suas residências, fornecendo “provas irrefutáveis” de sua participação. As postagens, muitas vezes inverídicas, causaram danos graves, como a perda de contratos comerciais de Kelly Pires, o fim de relacionamentos e prejuízos em ambientes de trabalho e familiares.
Quem São os Envolvidos?
Os três presos na operação ocupavam posições de destaque em Anápolis, o que amplificou o impacto do caso:
- Denilson da Silva Boaventura: Jornalista e publicitário, era diretor de Comunicação da Câmara Municipal e diretor de Operações do Portal 6, veículo de notícias local. É apontado como o principal responsável pelas postagens difamatórias, seja diretamente ou por meio de Ellysama.
- Luiz Gustavo Souza Rocha: Secretário municipal de Comunicação na gestão do prefeito Márcio Corrêa (PL), também foi implicado na administração dos perfis criminosos.
- Ellysama Aires Lopes Almeida: Ex-candidata a vereadora em 2020 pelo Patriota, é identificada como ex-proprietária da página “Anápolis na Roda” e, atualmente, responsável por publicações criminosas.
Os suspeitos conversavam entre si por meio de seus perfis pessoais no Instagram, enviando conteúdos para as contas anônimas, conforme revelado pelas investigações. A liberação do trio após as prisões, determinada pela Justiça, não interrompeu o inquérito, que pode resultar em indiciamentos por injúria, difamação, calúnia, stalking e falsidade ideológica.
Reações e Exoneração de Denilson Boaventura
A Câmara Municipal de Anápolis reagiu rapidamente à prisão de Denilson, anunciando sua exoneração em nota oficial divulgada em 19 de maio. O comunicado destaca que a decisão foi motivada pelas investigações da Operação Máscara Digital e reforça a disposição da Casa em colaborar com as autoridades:
“A Câmara Municipal de Anápolis informa que, diante das investigações da operação ‘Máscara Digital’, deflagrada pela Polícia Civil do Estado de Goiás, decidiu por exonerar o Diretor de Comunicação, um dos investigados na operação. A Câmara Municipal também se coloca à disposição das autoridades policiais e judiciais para o que se fizer necessário à contribuir ao devido processo legal.”
A exoneração foi amplamente comentada em Anápolis, com vereadores e moradores expressando choque com a gravidade das acusações. O vereador Dominguinhos do Cedro, uma das vítimas, declarou ao Jornal Opção que as postagens do “Anápolis na Roda” prejudicaram sua imagem pública e exigiu punição exemplar.
O Portal 6, onde Denilson atuava como diretor de Operações, emitiu uma nota esclarecendo que o veículo não tem relação com o caso e que continuará acompanhando os desdobramentos:
“O Portal 6 acompanha os desdobramentos da operação da Polícia Civil que cumpriu em Anápolis mandados de prisão, de busca e apreensão contra os supostos envolvidos com os perfis do Instagram ‘Anápolis na Roda’. Ressaltamos que o veículo, que completa em 2025 10 anos de atividades, nada tem a ver com a situação. O Portal 6 continuará acompanhado o caso e reportando todas informações que as autoridades competentes tornarem públicas.”

Luiz Gustavo Souza Rocha, secretário de comunicação de Anápolis, e Ellysama Aires Lopes Almeida, ex-candidata a vereadora de Anápolis | Fotos: reprodução
Impacto na Sociedade de Anápolis
O perfil “Anápolis na.Concurrent Roda”, com milhares de seguidores, era conhecido por sua capilaridade e influência local, disseminando informações que, segundo a PCGO, muitas vezes eram “inverídicas”. As publicações atingiram um amplo espectro da sociedade anapolina, desde figuras públicas até cidadãos comuns, causando prejuízos emocionais, financeiros e sociais.
A influenciadora Kelly Pires, uma das principais vítimas, relatou em redes sociais que perdeu contratos comerciais devido às difamações. “Essas páginas destruíram minha reputação sem motivo. Espero que a Justiça seja feita”, escreveu em seu Instagram. Outras vítimas, como pastores e empresários, procuraram a polícia para denunciar os ataques, que incluíam acusações falsas de corrupção, adultério e má conduta profissional.
O delegado Marcos Adorno destacou o impacto psicológico das ações do grupo: “As ofensas destruíram relacionamentos, ambientes de trabalho e famílias. Esse tipo de crime digital tem consequências reais e graves.” A operação revelou um padrão de comportamento coordenado, com os suspeitos escolhendo alvos estratégicos para maximizar o dano.
Contexto de Crimes Cibernéticos em Goiás
A Operação Máscara Digital reforça o compromisso da Polícia Civil de Goiás no combate aos crimes cibernéticos, uma prioridade da gestão do secretário de Segurança Pública, Renato Brum. Em 2025, a DERCC intensificou ações contra perfis falsos, golpes online e ataques virtuais, apoiada por tecnologias como rastreamento de IPs e análise de dados digitais.
Anápolis, terceiro maior município de Goiás, já enfrentou casos semelhantes, como a prisão de um hacker em 2023 por invasão de sistemas governamentais. A operação atual, no entanto, chama atenção pelo envolvimento de figuras públicas e pela sofisticação do esquema, que usava múltiplas contas para amplificar os ataques.
Próximos Passos da Investigação
A PCGO informou que o inquérito está em andamento, com análise dos materiais apreendidos, incluindo celulares, computadores e documentos. O delegado Adorno afirmou que novas provas podem levar a outros indiciamentos ou até mesmo a prisões adicionais. “Estamos aprofundando a investigação para identificar possíveis cúmplices ou outras vítimas”, disse.
Os suspeitos, embora liberados, podem enfrentar penas de até 4 anos por crimes contra a honra (injúria, difamação e calúnia), 2 anos por perseguição (stalking) e até 3 anos por falsidade ideológica, caso condenados. A Justiça também pode determinar medidas cautelares, como proibição de contato com vítimas ou suspensão de atividades em redes sociais.
Repercussão e Lições
O caso gerou indignação em Anápolis, com debates sobre a ética no uso das redes sociais e a responsabilidade de figuras públicas. Em postagens no X, moradores cobraram transparência da Câmara Municipal e da Prefeitura. Um usuário escreveu: “É inadmissível que pessoas em cargos de confiança usem redes sociais para atacar cidadãos. Que a Justiça puna com rigor.”
A Operação Máscara Digital também levanta questões sobre a necessidade de regulamentação mais rígida para perfis anônimos e o combate à desinformação. Especialistas em segurança digital recomendam:
- Denunciar abusos: Vítimas devem registrar boletins de ocorrência e relatar conteúdos ofensivos às plataformas.
- Proteger dados pessoais: Evitar compartilhar informações sensíveis online.
- Monitorar perfis falsos: Empresas e figuras públicas devem rastrear contas suspeitas.
Conclusão
A exoneração de Denilson Boaventura e as prisões na Operação Máscara Digital expõem a gravidade dos crimes cibernéticos em Anápolis, onde perfis anônimos foram usados para difamar e perseguir dezenas de moradores. A ação da Polícia Civil de Goiás demonstra a eficácia das investigações digitais, mas também destaca os desafios de combater a desinformação e o ódio online. A Folhain continuará acompanhando os desdobramentos do caso, incluindo as próximas etapas do inquérito e possíveis impactos políticos na cidade. Fique informado na nossa página principal.